Quase um homenzinho

Acredito que por ter crescido rodeada de homens me tornei uma garota mais prática, objeitva e racional que muitas das mulheres que eu conheço.

Minha noção de delicadeza e fragilidade foi contaminada pela convivência com os meus irmãos. Não acho que tenha sido ruim, de certa forma me ajudou a ver as coisas com mais clareza. 

Diversão era brincar na rua com os garotos. Carimba (ou queimada), sete-pecados, polícia-ladrão, pega-pega, esconde-esconde... Fazíamos roda de vôlei pra jogar 3 toques. Andávamos de bibicleta, patins... 

E não tinha esse negócio de aliviar pra mim. Nunca fui "café com leite"... Se a punição era levar sabacu era isso o que eu levava. Nada de moleza... Até porque meus irmãos não conseguiam entender o porquê de ser diferente comigo. Inclusive, se eu caísse tinha que me manter forte, do contrário perdia a fama de valente... Corredor da morte... Fichinha!

No vídeo-game não podia vacilar também! Ficava treinando sozinha quando ninguém estava por perto, só pra ganhar de todo mundo (o que nem sempre acontecia).

Boneca? Casinha? Fazer comidinha? Pra quê??? Muito chato. Queria mesmo era correr, pular, patinar, brigar... 

Coisas tipicamente de mulherzinha não eram tão divertidas, eram melosamente desencantadoras pra mim. Sacal, sem emoção, sem vida, sem paixão, sem... Legal mesmo era brincar como menino e voltar pra casa com os pés e as mãos sujas, o joelho com mais uma raladura, os cabelos suados e a roupa perfeita pra uma propaganda de sabão em pó! Só tinha graça assim.

A coisa mais feminina da minha diversão era brincar de amarelinha, pular corda (tinha que cantar a música do homem que bateu à porta...), rebolar com bambolê (o desafio era começar no pé e subir até o pescoço sem a ajuda das mãos). E o mais legal, o elástico, aquele que tinha dois milhões de variações fantásticas, capazes de fazer qualquer menina uma contorcionista.

Vejam só, até meus 16 anos eu não usava maquiagem, isso era bobagem... Camisa de algodão, tênis e jeans eram companheiros pra qualquer compromisso. A máxima era o conforto. Cabelos amarrados e com muito creme de pentear. Sobrancelhas assustadoramente cheias de falhas.

Foi mais ou menos por esta época que comecei a mudar. Mas só externamente... :) aprendi a ser uma donzela, de salto, vestidinho e maquiagem... Unhas e sobrancelhas mais cuidadas. Me fantasiava de mocinha pra esconder a molequinha! Mas ela estava lá! E ainda está! E vai continuar.

Porque é isso o que sou. Uma moleca que curte uma boa diversão... 

Invocado que eu percebo com mais clareza essa estranha forma de me comportar quando eu me comparo com a minha irmã mais nova, que este mês completa 12 anos. Quando olho pra ela vejo uma linda e meiga garotinha. Delicada, sensível, carinhosa, romântica... Absurdamente diferente de mim! 

Imagina que hoje enquanto ela lê "A Culpa é das Estrelas" eu, na idade dela, lia "O Escaravelho do Diabo", e todos os livros de ação da coleção Vagalume. Aghata Cristhie era minha companheira de aventura... 

Enquanto ela usa o computador pra ver vídeos de maquiagem, músicas da sua boyband favorita eu jogava Civilization, Age of Impires e Carmem Sandiego...

Olha só, o esporte dela é ballet, ginástica rítmica... Eu fiz vôlei, basquete, joguei futebol no colégio, andava de patins de bicicleta... 
São diferenças, apenas. Nada de melhor ou pior. Apenas preferências! 

Depois de adulta é que esse aprendizado me ajuda mesmo. Não tenho dificuldade em compreender o mundo masculino. Na arte de equilibrar razão e emoção, que é sempre um desafio feminino,  meu lead time é menor. Gosto das ciências exatas, mas gosto das não exatas também. Tenho um planejamento acertado pros próximos cinco anos, que deve ser levemente afetado por algum arroubo de diversão (viagens, esporte novo, livro que me chama atenção)...

Já não sou mais criança, mas mentenho uma alma de menino, jovem e livre. Que ainda deseja ganhar o mundo todinho numa aventura de bicicleta, ou de patins... Que ainda se espanta com o novo, como numa brincadeira de investigação... Que curte perguntar "porque" bilhões de vezes... Que se arrisca em saltos, sem muito medo de arranhões.

Ah! Os arranhões continuam sendo os troféus que carrego. Não são cicatrizes, são histórias!








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