O dia que quase morri...

Diário de uma cearense debilitada.

A Dona Morte passou um trote em mim ontem, pense numa gaiatinha! Totalmente sem noção.

Aparentemente estava tudo bem. Exceto pela gripe que me acompanha há 7 dias, com tosse de cachorro rouco, voz de sovaco e peito carregado... Mas estava tudo bem.

Mesmo sendo uma sexta-feira eu tinha começado uma dieta super saudável. Várias porções de frutas, proteína magra, fibras e muita água. Comportamento digno de dez estrelinhas no consultório de qualquer nutricionista.

As coisas começaram a mudar depois do almoço... Chega a hora do expediente e com ela umas coisas estranhas mexendo nas minhas entranhas. Num surto de lucidez envio uma mensagem pra Carol com os seguintes termos: "preciso de sal".

Ela nem respira, vira pra mim e pergunta se estou passando mal. 

Não consegui responder com palavras inteligíveis, porque a única coisa que consegui fazer foi chamar o "huuuugooooo" no cesto de lixo na minha mesa.

A partir daí o caos se instaurou. Não imaginava que era possível sentir aquele troço. Não conseguia falar, não conseguia levantar a cabeça, não conseguia respirar... Só sabia suar e colocar os bofes pra fora.

De repente a minha consciência ficou parcialmente comprometida... Me lembro de vozes ao meu redor, pessoas abanando um vento bom, e uma fraqueza angustiante!

Mas ainda não acabou... Ta só no comecinho. Veio a enfermeira me socorrer, com ela veio uma cadeira de rodas e umas questões de vestibular que não sabia nem por onde começar a responder... Sorte que o Kalil e a Carol tem PHD em "manias de Debora" e conseguiram responder muita coisa por mim. 

De repente eu sinto que (com licença da palavra) ia dar merda. Aquele embrulho na minha barriga significava que por cima não sairiam mais nada, que agora o destino estava mais ao sul. Usei o resto da minha razão, e dignidade, pra pedir que me levasse ao banheiro.

Não lembro como cheguei, mas deu tempo. Agora imaginem, o que eu nem queria lembrar, uma cadeira de rodas na porta do banheiro, não sei quantos homens fortes esperando eu terminar o serviço. E dentro do banheiro duas meninas que foram torturadas pelo mal cheiro... Pra piorar a situação, os sons que eu emitia eram também os piores possíveis. De longe dava pra pra se questionar como uma pessoa tão bonita poderia produzir algo tão mortífero.

Ainda não sei como me levantei, nem como fiz a assepsia, nem como saí de lá...
Sei que eu era movida por anjos de luz, numa cadeira, que às vezes trepidava, às vezes flutuava e às vezes eu quase caia...

Depois mais vozes ao meu redor, depois estava no carro com meu marido... Depois acordei numa cadeira de rodas num hospital.

Me levaram imediatamente para um ambulatório. Me lembro de tremer, de gemer, de doer, de vomitar, de lamentar... Lembro da voz do Daniel, preocupado, pedindo pra que eu tivesse calma (tudo bem!?)...

Mais vozes ao meu redor... Os comentários eram o seguinte: "ela está magrinha!"(Menos mal)... "A pressão está normal, mas está quase sem pulso" (valha)... "Ela está desidratada e com hipotermia"(hellowww?!)... "Ela está em estado de delírio" (é não, é?!)

Mas o pior foi quando meu marido falou do meu histórico e das medicações que eu tomo e o médico disse a seguinte frase: "me desculpe o comentário, mas você sabe que pessoas que fizeram redução de estômago ficam um pouco desequilibradas emocionalmente."

Eu fiquei possessa, se tivesse força pra levantar o dedo tinha dado um cotoco pra criatura de jaleco... Depois eu imaginei que ele falou isso porque quando ele me perguntou o que eu estava sentindo a única coisa que me lembro foi de ter dito, de várias formas, que iria sujar as calças.

Os séculos passaram e fui levada pra colher sangue pro exame (e nada de medicação). Passei o dedinho na coisa do plano de saúde e a criatura veio com uma agulha do tamanho do inferno pra me furar. Pra piorar a situação ela errou a veia, não só uma vez... Mas várias! Neste momento eu não aguentei, desembestei a chorar implorando pra sair do laboratório dizendo "quero meu medicamento, quero meu medicamento... Não aguento mais... Por favor!" O desespero foi tão grande que eu acordei no ambulatório novamente.

Eu tremia mais que vara verde... Mas minha redenção estava próxima. Chegou a medicação. Uma pra dor, outra pra enjôo, um protetor estomacal, e outro pra sei lá o quê, talvez pra falta de juízo (o efeito durou pouco)... 

Este foi o momento que minha mãe chegou, este foi o momento que o Daniel voltou a respirar, mas só durou 10 segundos. Porque a mamãe foi me examinar. Os olhos dela me assustaram: ela pegou no meu pulso, viu meus dedos, olhou pra minha expressão e disse pra enfermeira: "chame o médico agora, e traga aparelho xpto (sei lá o que era)! Ela está ficando cianótica"...

Ela passava a mão na minha testa e dizia "respire fundo, respire fundo"... Depois ela dizia: "Debora, continue respirando..."

Eu respirava e pensava "égua, agora quebrou que apartou, eu não devo nem estar respirando... Vão já me ressuscitar..."

Foi, não foi, veio uma máquina que mediu sei-lá-o-quê e aparentemente estava normal...

E foram pra veia as quatro medicações, e mais quatro bolsas de soro fisiológico! 4 horas de pois de chegar no hospital eu era uma pessoa com frio, com fome, com dor de barriga, fraca, mas feliz porque não tinha morrido.

Quando saíram os exames o médico olhou e disse que estava com sinusite! 

Eu penso: "matei a charada, o catarro quis sair pelo orifício errado! Que danadinho!"

Óbvio que este diagnóstico não me convenceu... Mas não tinha mais nada pra fazer. Peguei a receita, a lista de exames e fui pra casa...

Hoje ainda estou sequelada de sinusite, e ainda estou com o intestino #chatiado. Mas a grande lição disso tudo é que depois de quase morrer tudo o que se quer é viver!





  

Comentários

  1. Poxa Débora, que situação! Espero que não ocorra mais. Tadinhos dos que tiveram que aguentar o cheiro mortífero, mas pelo menos mostraram o quanto é importante termos amigos anjos perto da gente. Bjo.

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  2. Essas são as lições que aprendemos, não é?! Acredito que não há um mal que não se possa reter o que é bom! ;) bjim

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